Violência nas escolas I
Há uns anos, tive uma estagiária, deficiente auditiva, que realizou o seu estágio pedagógico numa escola em Camarate – Bairro Angola.
São inúmeras as histórias que se passaram durante esse ano naquela escola.
A Fernanda, assim vou chamar a estagiária, conseguia colmatar a sua deficiência com uma com uma extraordinária capacidade de leitura labial. Contudo, quando havia muito barulho, ficava de tal maneira perturbada que nem essa capacidade lhe valia.
Mas onde é que vem a violência nesta história?
Certo dia, quando nos preparávamos para ir assistir à aula da Fernanda, ela comunicou-me que os alunos tinham reclamado da dificuldade excessiva do teste que a professora tinha entregue na aula anterior. Temia que na aula assistida os alunos voltassem “à carga” com o referido problema.
Lá fomos para a aula e, como era de prever, os alunos logo a envolveram reclamando, em termos pouco correctos, sobre o teste. Como a Fernanda estava muito perturbada com a situação, embora não fosse essa a minha postura habitual, resolvi intervir e dizer aos alunos que se sentassem e que com calma se iria discutir o problema.
Julgava eu que estava a fazer uma coisa boa... mas enganei-me. De entre a multidão dos alunos que estavam amontoados às volta da secretária da professora, sobressaiu uma voz de um aluno que disse:
- Você esteja calado e vá dar ordens lá para a merda da faculdade. Aqui não manda nada e nós vamos resolver isto à nossa moda.
Eu fiquei estupefacto e sem acção nenhuma. Por um lado, não é meu habito intervir nas aulas que assisto e, por outro, temi que qualquer coisa que eu dissesse fosse motivo para se passar a uma violência não verbal.
A história acabou com a Orientadora da escola a ir chamar alguém do Conselho Directivo que lá conseguiu acalmar “as feras”....
Mas esta não é a única história desse ano. Brevemente contarei outra passada com outro estagiário da mesma escola....
São inúmeras as histórias que se passaram durante esse ano naquela escola.
A Fernanda, assim vou chamar a estagiária, conseguia colmatar a sua deficiência com uma com uma extraordinária capacidade de leitura labial. Contudo, quando havia muito barulho, ficava de tal maneira perturbada que nem essa capacidade lhe valia.
Mas onde é que vem a violência nesta história?
Certo dia, quando nos preparávamos para ir assistir à aula da Fernanda, ela comunicou-me que os alunos tinham reclamado da dificuldade excessiva do teste que a professora tinha entregue na aula anterior. Temia que na aula assistida os alunos voltassem “à carga” com o referido problema.
Lá fomos para a aula e, como era de prever, os alunos logo a envolveram reclamando, em termos pouco correctos, sobre o teste. Como a Fernanda estava muito perturbada com a situação, embora não fosse essa a minha postura habitual, resolvi intervir e dizer aos alunos que se sentassem e que com calma se iria discutir o problema.
Julgava eu que estava a fazer uma coisa boa... mas enganei-me. De entre a multidão dos alunos que estavam amontoados às volta da secretária da professora, sobressaiu uma voz de um aluno que disse:
- Você esteja calado e vá dar ordens lá para a merda da faculdade. Aqui não manda nada e nós vamos resolver isto à nossa moda.
Eu fiquei estupefacto e sem acção nenhuma. Por um lado, não é meu habito intervir nas aulas que assisto e, por outro, temi que qualquer coisa que eu dissesse fosse motivo para se passar a uma violência não verbal.
A história acabou com a Orientadora da escola a ir chamar alguém do Conselho Directivo que lá conseguiu acalmar “as feras”....
Mas esta não é a única história desse ano. Brevemente contarei outra passada com outro estagiário da mesma escola....
17 COMENTÁRIOS:
o..k............
nem a propósito...está a dar na rtp1 uma reportagem sobre isso...
hugi
acho piada aos profs, reis e senhores da escola desde há muito e que vêem o chão a fugir-lhes dos pés, verberarem a violência dos alunos nas escolas como se estes lugares devessem ser um oásis da sociedade....
Sabiam que a violência dos putos nas famílias tem crescido exponencialmente, sendo os principais alvos as mães, principalmente nos agregados monoparentais?????
Que os miúdos(as) da faixa 12/16, rapaces por natureza, estão agora precocemente mais fortes e altos que os seus progenitores ?
Que talvez, pela primeira vez na história da humanidade são eles, os jovens, que têm os conhecimentos mais actuais, os info-técnicos, via teia global, e que os traditam para as gerações mais velhas???
A tradição já náo se passa, mas passou-se para o lado deles que estão a iniciar e a programar um novo percurso
Assim, enjaulados nas ditas escolas, leõzinhos selvagens, sem gente que os saiba amestrar, de que é que estão à espera???
fazer queixinhas???
Ou não será tempo de reconfigurar a pedagogia e em vez de os matraquear com bê-á-bás, livrescos, académicos, difusos e ultrapassados, os motivassem com (a)fazeres mais consentâneos com os instrumentos que eles dominam melhor, como seja os hardwares e softwares do que está para aí acontecer...
Mas será que teremos pedagogos para isso???
duvido muito e aí é que a porca torce o rabo... é ver as flagrantes falhas de autoridade na relação docente/discente porque acima de tudo, há o desrespeito intelectual que eles nutrem por muitos dos profs....!!!
lollllllllllll....disse!!! take it easy, man!!!!
luman riche: that is the culture!!!
ou pensa que para programar, desenhar conteúdos, prever aplicações, não tem de se levar em conta o que o lao-tze aconselha, o que pitágoras enumerou, e que o socrates seduziu, o da vinci visionou e o maquiavel planeou e os que outros expoentes artistico-literários marcaram na história????
Poizé: estamos na era global e no conhecimento global...kem se agarrar a tecnicazinhas de trazer por casa, tá fendido!!!
lol... (prometo que não meto mais a cu-lherada... :P)
Bem, não é muito meu hábito fazer comentários aos comentários de um qualquer post mas desta vez não posso deixar passar em falso.
Antes de tudo e mais qualquer palavra quero dizer que é lamentável que aqui, ou noutro qualquer blog, venham deixar os seus comentários e depois se acobardem num “nickname” que nem sequer é o mesmo de comentário em comentário.
Pois é Sr. “duh...sente!!!” ou Sr. “pito-ágora” (como preferir), parece-me que é evidente no seu primeiro comentário que há já bastantes anos que não matem qualquer tipo de contacto (se é que alguma vez teve) com as universidades e especialmente com os departamentos de educação das mesmas… e digo isto por um simples razão. Eu mesmo estou a terminar uma licenciatura de formação de professor e não posso sequer concordar com uma linha que escreveu em qualquer um dos comentários que deixou.
E se não o sabe, já devia ser tempo de ter percebido que os “(…)bê-á-bás, livrescos, académicos, difusos e ultrapassados (…)”, já estão de facto ultrapassados e só na sua mente, a meu ver com horizontes um tanto ao quanto reduzidos, é que estas pedagogias ainda existem. E não pense você que tudo se resolve “dando” aos meninos aquilo que eles querem, não pense que é deixando os meninos em frente ao computador, ou melhor, injectando nos meninos “gigabytes” de informática vai resolver os problemas de violência nas escolas.
Em primeiro lugar, as escolas não são o oásis da sociedade, segundo não servem para depositar os meninos enquanto os papás vão trabalhar (Será o seu caso? Também faz isso?) e ficam despreocupados durante aquelas horas, terceiro não servem para “informatizar” os meninos e transformá-los em máquinas de produção em série. A escola é um espaço aberto à comunidade e vice-versa. Um espaço onde se criam conhecimentos, um espaço onde há lugar para todos, um espaço onde se preparam as crianças e jovens para a sociedade. E este último ponto é fundamental, saber viver em sociedade, saber respeitar o outro, o espaço do outro e o de todos nós. E não é com a informática que isso se ensina, nem tão pouco eles vão aprender isso através de um computador. E por essa razão existem os professores, alguém capaz de incutir esses valores nas crianças e nos jovens, alguém capaz de lhes dar uma noção do que é viver em sociedade, do que é respeitar o outro… e essas coisas o professor não vai buscar ao saber livresco nem às pedagogias do tempo da Maria cachuxa, vai buscar à sua experiência de vida, à troca de ideias com os próprios alunos, às situações do meio envolvente das escolas etc, etc, etc.
Mas isto só funciona e se repercute na escola se “a lição vier estudada de casa”, se a família der o suporte necessário para que a escola possa complementar.
E só para terminar porque o texto já vai longo, o Sr., de educação não sabe rigorosamente nada e certamente que nunca esteve dentro de uma sala de aula. No dia em que isso (que eu duvido) lembre-se deste post.
Tenho dito.
Muito interessante e real toda esta problemática...
Apenas alguns comentários:
"Assim, enjaulados nas ditas escolas, leõzinhos selvagens, sem gente que os saiba amestrar, de que é que estão à espera???"
Se eu quisesse ser domador de leões tinha ido para o circo. As minhas funções são de educador.
"os motivassem com (a)fazeres mais consentâneos com os instrumentos que eles dominam melhor, como seja os hardwares e softwares do que está para aí acontecer"
Se conhecesses o meu trabalho saberias que essa é, há vários anos, a minha área de investimento... Mas não se fazem omeletes sem ovos, nem se utiliza estratégias usando computadores com frigideiras.
“Poizé: estamos na era global e no conhecimento global...”
Pois estamos... mas, infelizmente, a grande maioria dos nosso jovens não sabe beneficiar desse recurso. Não é pescador aquele que apenas comprou uma cana de pesca....
“kem se agarrar a tecnicazinhas de trazer por casa, tá fendido!!!”
Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Muito do que sei e os recursos que tenho foram adquiridos à minha custa. Mas quando comecei era respeitado, não apenas pelos alunos, mas também pelos dirigentes. Mas hoje até se é ministra da educação sem nunca ter investigado nada nessa área, sem nunca ter escrito uma linha sobre escola, educação...E acima de tudo sem capacidade de se rodear de técnicos competentes
“Bem, não é muito meu hábito fazer comentários aos comentários de um qualquer post mas desta vez não posso deixar passar em falso.”
O que me admira é que ainda haja pessoas que escolheram uma profissão tão desprestigiada e tenham “esta garra”, como demonstrou o Mozzart nos seus comentários...
Mozart: Quem fala assim, não é gago! Bem dito!
TZ: É óbvio que, para quem na Educação investe profissional e pessoalmente, as palavras "anónimas" da pessoa que acha que a escola tem de ser responsabilizada até pelo ambiente sociofamiliar... irritam qualquer um e revelam um desconhecimento total do assunto e uma análise-de-trazer-por-casa!
A reportagem de ontem, na RTP1, reflecte o que (felizmente) ainda só acontece em algumas (demais) escolas!
Tenho seguido com atenção a discusão....
Não gosto nada de meter a foice em seara alheia, mas tenho alguns defeitos que me impelem a comentar. Vejamos... Fiz a 4ª classe antes do 25 de Abril (no Portugal ultramarino, cantávamos o Hino à porta da escola), mais tarde fui professor do secundário durante 2 anos e universitário durante 3. Como entre o 1º e último defeito se passaram mais de trinta anos, acho que posso tentar ver onde está o problema.
Para mim, o cerne da questão está no esvaziamento da autoridade natural de um professor, resultado da “democratização” do ensino, chegando a extremos de termos de gramar com criancinhas da primária a fechar escolas a cadeado e realizar manifs à porta da escola, dando entrevistas às televisões.
É angustiante para um professor, ter de dar explicações a um aluno sobre o modo como estipulou realizar a avaliação dos conhecimentos. Pior ainda, é ter de se sujeitar ao que lhe é “imposto” pelos mesmos, em nome da dita “participação democrática” no processo educativo. O facilitismo com que se encaram estas, e outras, situações leva a “cenas” como a que é descrita. Para mim, é um problema de perda de autoridade da classe docente, associado ao abuso de autoridade da classe discente.
A abertura a novas metodologias, mostrada pelos professores, foi confundida com um sinal de fraqueza. Pais e alunos julgam-se agora donos da escola, do saber, da metodologia. Mas não são.
O problema não está, obviamente, no facto de os alunos saberem mais de informática que os professores (até porque, em 90% dos casos, esses conhecimentos se ficam pela agilidade dos polegares na consola da Playstation), mas sim (na minha opinião) no facto de pensarem que sabem mais da vida e, o que é mais perigoso, a quererem a papinha toda feita. Como na realidade lhes acontece em casa.
Um pouco de autoridade, mesmo que imposta, nunca fez mal a ninguém …. Antes pelo contrário.
O Mozzart, O Tong-zhi e o Mr. Bear disseram quase tudo. Tenho pena de não ter vindo cá antes. Azar.
Como professor que sou, desde 1987, nunca tive um caso de indisciplina na minha aula. Nunca mandei ninguém para a rua. Nunca marquei faltas disciplinares a ninguém. Apesar de dar aulas maioritariamente a adultos (ensino recorrente), como sou professor efectivo, tenho por obrigação dar também aulas ao básico. Assim, tenho duas turmas do oitavo para me entreter. Ao longo da minha carreira alunos mudaram muito, é certo. Os currículos e os conteúdos mudaram pouco, também é verdade. Mas a sociedade mudou apenas superficialmente, Sr. dhu-...sente a.k.a pito ágora. A modernidade que apregoa é apenas epidermica. A vontade de mudar é somente um verniz. A cultura é uma coisa chata, sem dúvida, mas é por isso que é essencial e intemporal. A transmissão de conhecimentos não passa somente por debitar conteúdos. É necessário que alguém esteja disposto a absorver esses conteúdos. E a achar que eles são fundamentais na formação do carácter e na evolução do raciocínio. Enquanto imperar a cultura do facilitismo, da negligência e da superficialidade, Portugal viverá uma cultura apardalada de fute(boys) e globos de ouro, Carrilhos e Belmiros, festivais de verão e dias disto e daquilo. E isso é pobre. Muito pobre...
Senhor dhu..sente (a.k.a,etc), enquanto existirem portugueses e pior - famílias - que pensarem como o senhor, as escolas vão continuar a vomitar futuros caixas do continente, repositores e seguranças frustrados, vendedores à comissão, comerciantes-chicos-espertos e funcionários-públicos-patos-bravos. O mundo não é uma consola. Há vida para além da Internet.
Não sou propriamente a favor da meritocracia, mas lá que ela faz falta...
A propósito: já há dois anos que uso uma plataforma para dar aulas a turmas fia internet. É um projecto. Tem êxito. Sabe o que perdi? A possibilidade de formar pelo exemplo, de incutir valores, enfim... de humanizar as minhas aulas. Perdi alunos. Ganhei números. Os alunos não se "chateiam" nas escolas. Os alunos perderam a possibilidade de se tornarem algo mais do que executores de exercícios.
Já agora. Sabe pq é que nunca tive problemas com os alunos? Pq talvez os compreenda e saiba como lhes dar a volta, dando a volta às matérias. É que tb já fui aluno. E, pasme, chumbei por faltas disciplinares no 9º ano...
São nessa horas, que agradeço não ter escolhido o magistrado. Aqui em Berlim, uma professora foi separar uma briga e acabou levando um murro no rosto, quebrando os óculos e se cortando. As autoridades falam de mudar as leis e punir crianças com menos de 14 anos. Quem poderia imaginar que o mundo fosse chegar a esse cúmulo????
Quanto ao possível encontro, tens toda a razão. jamais seremos os mesmos. Lol.
ah esquecí - o agressor da professora era um menino de 12 anos.
Infelizmente nos dias que correm, por imposição da vida moderna, cada vez a educação de um modo geral faz-se na escola, pois passamos grande parte da nossa fase de aprendizagem, na qual estamos mais receptivos, nelas.
Não devemos por isso imputar as instituições de ensino o papel de substitutas da "educação familiar".
Por um lado atribui-se o papel, por outro retira-se-lhes a "autoridade", desautorizando, desmoralizando os professores.
O problema da desautorização e desnormalização dos professores surge no seio das famílias, são o próprios pais que ao dizerem mal dos professores, ao criticarem infundadamente os métodos pedagógicos na presença dos próprios filhos, lhes estão a incutir, erradamente, valores de revolta e de violência contra, os professores, a própria instituição de ensino.
Assim sendo os pais nem cumprem o seu dever como educadores nem deixam que a "escola" eduque.
Quantas famílias, pela simples razão de não quererem ouvir ou não poderem ouvir (por falta de acompanhamento), não estão a par dos problemas dos filhos e por isso não lhes dão o devido valor, colmatam a ausência do dia a dia apajando demasiado os filhos e "aparando-lhes os golpes todos".
A má formação não reside no facto de estarmos diariamente em contacto com a violência, quer na televisão, ou na Internet, mas sim na má formação pedagógica no seio familiar, pois por não existirem "filtros" pedagógicos, os maus exemplos são assimilados como que correctos, e como louváveis.
Aquilo que nos rodeia pode ser parte do problema, mas não é justificação, o problema não está no livre acesso aos "instrumentos", mas sim em parte no do uso que fazemos deles.
Sempre existira o "bom" e o "mau", mas não devemos por isso generalizar, culpabilizando todos e tudo, pela "nossas" faltas.
Fico bastante contente pelos contributos que foram dados à volta do tema Violência nas Escolas. Esta foi apenas uma das abordagens possíveis. Há mais, muitas mais.
A opacidade que envolve este tema não deixa ver a real "implementação" do problema...
Durante 14 anos tive contacto com várias escolas por ano. Poderia contar muitos episódios que traduzem violência ou muito próximo disso.
O ez refere o programa da RTP1 de ontem. De facto foi o programa que inspirou o meu post. Mas foi escrito e publicado antes da transmissão. Escolas e situações como aquelas mostradas na reportagem não serão muitas, mas mesmo que fosse apenas uma já seria de lamentar. Mas escolas onde há pequena violência serão bem mais do que se posso pensar.
Um agradecimento ao Mrtbear pelo seu contributo e um "bem vindo" ao blog do imperador!!!
Hooooo Obrigado... Sou só mais um Vassalo, digo.. servidor, melhor ainda .. admirador .... ao dispôr de V. Alteza (que aliás me foi muito bem recomendado) HEHEHEHE
Grande imperador, não te mói a alma imaginar o que estarão a fazer às nossas crianças para elas se portarem assim nas Escolas? O que vêm, sentem, passam, para chegarem a esses picos de agressividade? Sinto-me infeliz e impotente perante esta geração perdida. Beijinhos a ti que preparas gente para lidar com estes meninos infelizes.
Quando comentei, estava com pressa e, a quente, foi o que se me ofereceu dizer. Mas o assunto tem pano para mangas e para toda uma colecção de Outono/Inverno. É pena que os jornais e opinion makers deste país diabolizem toda uma classe, dizendo que "os professores não se preocupam com os alunos". Uma vergonha, mesmo tendo em conta o fascínio português pelos bodes expiatórios.
E o resto? O ministério da educação preocupa-se com os alunos ou com as estatísticas? As famílias preocupam-se com a formação dos educandos ou com o desenrasque futuro numa profissão manhosa?
Sabem o que isto me faz lembrar? Aqueles que dizem que os acidentes rodoviários surgem por culpa do traçado das estradas!...
Beati pauperes spiritu.
O meio não justifica tudo. Depois da reportagem da RTP tenho receio que sejam levados a pensar que os tais meninos violentos sejam todos filhos de famílias destruturados. Realmente não é bem assim. Sou professor com 19 anos de carreira, já dei aulas desde Porto Santo ao Algarve, de Viseu a Aveiro. Este ano tenho duas turmas de Língua portuguesa no 6º ano, cujos alunos são provenientes de meios muito heterogéneos. Ao contrário do que mente a nossa ministra, numa mesma turma tenho a filha do presidente da escola e filhos de simples operários e agricultores. Filhos de pais separados é só contar. Meninos a viver com os avós pois os pais desentenderam-se lá estão. No entanto, nestas duas turmas não tenho problemas disciplinares alguns. Dizer que todos os meninos indisciplinados na escola vêm de guetos sociais é falso. Quantos filhos de senhores fulanos, de bem na vida e com estatuto social já me deram dores de cabeça que cheguem, foram arrogantes e insolentes. Nunca se pode tomar a parte pelo todo nem o todo pela parte. Ainda tento manter alguma sanidade mental nisto tudo. Pena a senhora ministra e outros que por lá passaram não fazerem o mesmo.
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